Guru Purnima
Celebração do Dia do Guru
Hoje é o Guru Purnima, uma celebração e um dia de grande importância espiritual para hindus e budistas em todo o mundo. Na Índia, sempre se reverencia a relação de compartilhamento de conhecimento entre o Guru (professor) e o Discípulo (aluno). Esta ocasião do Gurupurnima é celebrada no dia da Lua Cheia (Poornima) entre os meses de junho e julho. Também é conhecido como Vyasa Poornima e comemorado como aniversário de Veda Vyasa, autor e personagem da sagrada epopeia do Mahabharata.
O significado do Guru Purnima é que os buscadores espirituais, discípulos e estudantes oferecem adoração e mostram sua gratidão e respeito ao seu Guru (professor espiritual) neste dia. Budistas de todo o mundo também celebram o Guru Purnima para honrar e expressar seu compromisso e fé em seguir os ensinamentos do Senhor Buda. Acredita-se também que o Senhor Buda fez seu primeiro sermão neste dia auspicioso em Sarnath, em Uttar Pradesh.
Em resumo, hoje é o dia de mostrarmos e expressarmos nossa gratidão àqueles com quem tivemos a bênção de aprender algo de valioso para nossas vidas, seja no campo espiritual, seja no campo secular.
Om Shanti Shanti Shanti
Om gurur brahmā gurur vishņu gurur devo maheśvarah
Gurureva param brahma tasmai śrī gurave namah
Ajnāna -timirāndhasya jnānānjana śalākayā
Chakshur-unmīlitam yena tasmai śrī gurave namah
Chidrūpeņa parivyāptam trailokyam sacharācharam
Tatpadam darśitam yena tasmai śrī gurave namah
Sarva-śruti-śiro-ratna samudbhāsita-mūrtaye
Vedāntāmbuja-sūryāya tasmai śrī gurave namah
Jnāna-śakti-samārūḍhas-tattva-mālā-vibhūshitah
Bhukti-mukti-pradātā cha tasmai śrī gurave namah
Na guroradhikam tattvam na guroradhikam tapah
Tattvajnānāt param nāsti tasmai śrī gurave namah
Gururādir-anādischa guruh paramadaivatam
Guroh parataram nāsti tasmai śrī gurave namah
Brahmānandam parama-sukhadam
Kevalam jnānamūrtim
Dvandvātītam gagana-sadriśam
Tattvamasy-ādilakshyam
Ekam nityam vimalam-achalam
Sarvadhī-sākshibhūtam
Bhāvātītam triguņa-rahitam
Sad-gurum tam namāmi
Significado:
O Guru é Brahma (o princípio que cria a tudo),
o Guru é Vishnu (o princípio que preserva tudo),
O Guru é o Senhor Shiva (Maheshwara - o princípio que destrói e transforma a tudo)
O Guru é a manifestação direta do Supremo Espírito (Brahman),
Ofereço minha reverência ao Guru.
Saudações ao Divino Guru,
que, com o colírio do conhecimento,
abriu os olhos daquele que estava
cego pela doença da ignorância!
Saudações ao Guru,
que tornou possível realizar Aquele
por quem este universo inteiro
de objetos móveis e imóveis é interpenetrado!
Saudações ao Divino Guru,
que concede ao discípulo a chama do conhecimento do Ser,
e queima os laços das ações egoístas
acumuladas através de inúmeros nascimentos.
Meu Senhor é o Senhor do universo.
Meu Guru é o Guru do universo.
Ele, meu Ser, é o Ser do universo.
Saudações ao divino Guru.
Saudações ao verdadeiro Guru,
que é a personificação da Felicidade do Espírito Supremo,
que concede a beatitude suprema, o absoluto,
a personificação do mais elevado conhecimento;
que está além dos pares de opostos (como prazer e dor)
e é intocado pelo mal, como o céu;
que é mencionado nas Escrituras como “Tu és Aquele”;
o Uno sem segundo, o eterno, o puro, o imóvel,
a testemunha de todas as modificações mentais,
que reside além dos pensamentos e dos gunas.
Saudações ao Guru, que é o Espírito Supremo,
eterno, puro e sem forma, resplandecente,
imaculado, sempre desperto
e que tem a natureza da inteligência e da bem-aventurança.
Oṃ
bhūr-bhuvaḥ-svaḥ
tat savitur vareṇyaṃ
bhargo devasya dhīmahi
dhiyo yo naḥ pracodayāt
Om
Soberano dos três mundos
Divindade reluzente
Em cujo brilho eu medito
Iluminai a minha/nossa mente
Oṁ Sthāpakāya ca dharmasya
Sarva-dharma svarūpiṅe
Avatāra variṣtāya
RāmakṚṣnāya te Namaḥ
01 - Necessidade de treinamento na vida espiritual
02 – A Função do Guru
02 – A Função do Guru
O que significa a realização do Ser? Significa a união do espírito individual com o Espírito supremo. Depois de passar através de várias experiências e sofrimentos na vida, o espírito individual se aproxima do Espírito supremo e finalmente realiza sua unidade com ele. O Upaniṣad dá uma descrição pitoresca do presente processo:
Dois pássaros de plumagem dourada, companheiros inseparáveis, estão empoleirados nos ramos da mesma árvore. Um deles prova dos frutos doces e amargos desta árvore; o outro, nada provando, observa tudo calmamente. O ser individual, iludido pelo esquecimento de sua real natureza divina, se envolve na vida mundana e sofre. Mas quando reconhece o Senhor adorável como o seu próprio e verdadeiro Ser, e contempla a Sua glória, torna-se liberado do sofrimento.1
Estamos esquecidos de nossa verdadeira essência divina. Então, ao invés de nos aproximarmos de Deus, nos afogamos mais e mais na existência mundana. Alguém deve nos lembrar de nossa verdadeira natureza. Quem faz isso é o mestre ou guru espiritual. A função do mestre é despertar o discípulo de seu sono secular e lhe mostrar o caminho para o Divino. O guru não é como o sacerdote cristão que se interpõe entre o homem e Deus. A palavra guru significa, etimologicamente, um guia espiritual que remove a escuridão e traz luz.2 Ele ajuda-nos a nos desipnotizarmos removendo as falsas noções que temos alimentado sobre nós mesmos.
Em uma de suas parábolas Sri Ramakrishna fala do tigre-ovelha. Uma tigresa atacou um rebanho de ovelhas, mas, como o pastor resistiu, ela tombou dando à luz a um filhote e morreu. O pastor teve pena do bichinho e o criou junto com o rebanho. O pequeno tigre bebia leite de ovelha e aprendeu a balir e comer grama como fazem as ovelhas. Anos mais tarde, outro tigre atacou o mesmo rebanho e ficou espantado ao ver um tigre se comportar como um carneiro. Ele pegou o tigre-ovelha, arrastou-o para um lago e obrigou-o a olhar para o seu reflexo no espelho d’água. Então o velho tigre colocou um pedaço de carne na boca do jovem tigre-ovelha, e disse-lhe que ele não era uma ovelha, mas verdadeiramente um tigre. Então, o tigre-ovelha abandonou sua consciência de ovino e recuperou a consciência real de um tigre.3
Swami Brahmananda costumava comparar o mestre com um ministro real. Um homem pobre pediu ao ministro real que lhe concedesse uma audiência com o rei que vive em um palácio, com sete portas. O ministro acatou seu pedido, e levou-o através dos portões um após outro. Em cada portão havia um oficial ricamente vestido, e a cada vez o pobre homem perguntava ao ministro se aquele era o rei. O ministro sempre respondia "não", até que tivesse passado o sétimo portão, chegado à presença do rei sentado ali em todo seu régio esplendor. Então o homem pobre não fez mais qualquer pergunta. O que ele precisava era de alguém que pudesse orientá-lo através das portas e corredores do palácio. "Assim é com o guru", diz Swami Brahmananda, “como o ministro do rei, ele leva o discípulo através das diferentes fases do desenvolvimento espiritual, até deixa-lo com o Senhor.”4
A personalidade humana é como um grande palácio com prédios e pátios, cada um situado no interior do outro. O Espírito Supremo vem a nós na forma de um mestre, fazendo-nos perceber que não somos o corpo físico, não somos a mente, ou os sentimentos, as ideias e as emoções, mas o Espírito eterno. Quando viajamos para um país desconhecido, é aconselhável ter um guia que conheça bem o caminho. O guru é o guia que nos conduz ao nosso destino, deixando-nos lá em segurança.
03 - Necessidade de um Guru
03 - Necessidade de um Guru
Na Índia, presume-se a necessidade de um guru para a vida espiritual. Quando estive pela primeira vez na Europa fiquei surpreso ao ouvir alguns grupos religiosos dizendo que comungavam com Deus, ouviam a voz de Deus, recebiam indicações sobre a vida espiritual, sem nenhum treinamento especial. Estudei alguns casos e descobri como era de se esperar, que essas pessoas estavam ouvindo suas próprias vozes que às vezes eram boas. Deus e a Voz divina estão longe de uma alma impura. Uma pessoa bem treinada, de coração puro, certamente pode comungar com Deus, o Espírito que habita seu interior, mas quando pessoas impuras e destreinadas têm a mesma pretensão, elas só enganam a si mesmas. E ainda dizem que não precisam de ajuda externa. Meu mestre, o Swami Brahmananda, costumava dizer: 'Um mestre é necessário, mesmo quando se quer saber roubar. E quanto a este sublime Brahmavidyā, o conhecimento de Brahman - não seria necessário um mestre para sua conquista?1
Não há nenhum mistério nisto. As pessoas recorriam à Madame Curie para estudarem as propriedades do rádio; procuravam Rutherford para aprenderem sobre a natureza do átomo. Como nas ciências naturais a orientação de um professor competente é necessária, também na ciência espiritual a orientação de um guru é absolutamente necessária para o aprendizado da técnica da realização do Ser. Aqui, estamos viajando para regiões das quais nada sabemos. Aqueles que não sentem a necessidade de qualquer professor, que estão mais ansiosos para serem professores dos outros, deve se lembrar que cegos não deveriam tentar guiar outros cegos.
As escrituras hindus repetidamente enfatizam a importância do guru. Tomemos por exemplo o Bhagavad Gītā. Nele Kṛṣṇa no começo simplesmente leva Arjuna ao campo de batalha, sem lhe dar qualquer instrução espiritual. Então Arjuna implora: “Sobrepujada pela dor, minha mente se encontra confusa quanto ao caminho correto. Suplico-lhe como seu discípulo, instrua-me. Refugio-me em Vós.”2 Foi somente quando Arjuna aceitou a Kṛṣṇa como guru que o divino Mestre deu início ao seu ensino. Na Joia Suprema do Discernimento de Shankara encontramos o discípulo apelando ao seu mestre: “Ó Mestre, caí no mar do nascimento e da morte. Salva-me deste tormento.”
04 - O poder da iniciação espiritual
04 - O poder da iniciação espiritual
Sri Ramakrishna disse: “É preciso ter um despertar do Espírito interior para ver a Realidade imutável e imperecível.” A mera leitura e falar sobre verdades espirituais não é suficiente. Nossa luz intrínseca deve ser percebida de maneira direta.
Como este primeiro despertar pode ser produzido? Um mestre iluminado faz isso para o discípulo através de um processo de iniciação espiritual. Em todas as religiões existem os ritos de iniciação que consistem em banho, batismo, aspersão com água benta ou com óleo, recitação de textos sagrados, cultos de adoração, etc. Essas práticas tornam os iniciados prontos para os privilégios das comunidades religiosas em que são admitidos como membros. A iniciação formal é muito diferente da iniciação espiritual que estamos falando aqui.
Isto é o que Jesus queria dizer quando disse: “A menos o homem nasça de novo, não poderá ver o reino de Deus.”1 Nascer de novo significa submeter-se ao despertar espiritual, deixar de identificar-se com o próprio corpo e perceber-se como Espírito. “Aquilo que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito.” São Pedro, um discípulo de Cristo, explica o significado desta passagem mais adiante: "Nascer de novo, não da semente corruptível, mas do incorruptível, pela palavra viva de Deus que permanece para sempre.”2
O guru é aquele que transmite a palavra de Deus. O poder de Deus vem através da palavra, do mantra, e através do mantra promove o despertar do Espírito.
Na Índia temos o ideal de dvija, o nascido duas vezes. A palavra dvija também significa pássaro. Primeiro vem o ovo, depois do ovo vem o pintainho que algum dia vai se transformar em uma ave adulta. Nem todos os ovos são chocados, nem todos os pintainhos crescerão completamente. Da mesma forma, nem todas as pessoas alcançarão a realização espiritual. Cada um está nu estágio diferente de crescimento espiritual. Um notório versículo em sânscrito, afirma: "Pelo nascimento natural um homem nasce um Sudra, uma pessoa ignorante, através dos ritos de purificação ele se torna um dvija, o nascido duas vezes, através do estudo e do conhecimento das escrituras, ele se torna um vipra, um estudioso ou poeta, através da realização do Espírito supremo, ele se torna um brâmane, um conhecedor de Brahman.”3 O objetivo da iniciação espiritual é permitir que uma pessoa se torne um verdadeiro Brāhmana, um conhecedor de Brahman. O Upaniṣad diz: ‘Aquele que parte desse mundo conhecendo o imperecível, é um Brāhmana’4. Mahapurush Maharaj (Swami Sivananda), um grande discípulo direto de Sri Ramakrishna, me disse uma vez: "Quem chega a Sri Ramakrishna é realmente um Brāhmana."
A iniciação espiritual provoca a harmonia do Ser individual com o Ser supremo. Um sábio chinês demonstrou o princípio da harmonia natural (Tao) desta maneira: ele pegou dois alaúdes e os afinou de forma idêntica. Colocou um deles numa sala adjacente, em seguida, tocou a nota Kung do instrumento que segurava. Imediatamente a nota Kung no segundo alaúde respondeu. Quando ele tocou a nota Chio do primeiro, a corda correspondente do segundo instrumento vibrou, porque elas estavam afinadas no mesmo tom. Se ele mudasse os intervalos em um alaúde os tons do segundo ficavam abalados e fora da afinação. O som estava lá, mas a influência da nota chave tinha desaparecido. Da mesma forma, podemos ler, pensar e falar. Mas tudo isso será em vão se não aprendermos a sintonizar nossas almas com a Superalma, o Ser Supremo.
O poder da iniciação torna-se manifestado apenas numa alma pura que anseia intensamente por Deus. Patañjali distingue três tipos de discípulos: “Os delicados (mṛdu) - aqueles que não podem suportar mais os rigores da disciplina espiritual; o mediano (madhyama) - aqueles que se esforçam mais do que o primeiro; o intenso (tīvra) - aqueles que se esforçam intensamente pela realização, que aprenderam o segredo de retirar suas mentes das distrações externas, que estão sempre conscientes da realidade divina dentro de si e têm profundo desejo de Deus”5.
A ânsia por Deus deve ser sempre considerada como uma marca da Graça divina. No início de minha própria vida espiritual o caminho parecia muito difícil. Quando perguntei ao Swami Brahmananda o quê deveria fazer, sua resposta foi: “Esforço, esforço”. Receber instruções de um guru não é o suficiente, a pessoa deve se esforçar incessantemente.
O discípulo deve, antes de tudo ansiar de todo o coração por conhecer a Verdade. Para aqueles que estão preparados para ela, o despertar pode vir repentinamente. Para os que estão lutando vem gradualmente.
Quando estamos em um estado de espírito animado, somos capazes de transmitir essa alegria aos outros. De forma semelhante, um bom mestre espiritual é capaz de comunicar vibrações espirituais para seus discípulos. Vimos os grandes discípulos de Sri Ramakrishna exercerem esse poder em muitas ocasiões. Eles eram grandes repositórios de poder espiritual, mas utilizavam este poder com muita cautela. Normalmente, um guru transmite seu poder através de um mantra.
05 - O poder do Mantra
05 - O poder do Mantra
Uma vez, um discípulo monástico de Mahapurush Maharaj perguntou, “As pessoas não recebem o despertar espiritual no momento de sua iniciação. Mesmo assim elas serão beneficiadas?” Mahapurushji respondeu: “Mesmo que elas não sintam nada no momento da iniciação, o poder do santo nome dado por um mestre iluminado é infalível. O poder espiritual transmitido ao discípulo no devido tempo, vai transformá-lo e dar-se-á o despertar espiritual”.
E sobre a iniciação dada por uma alma avançada, embora não totalmente iluminada? A alma comum avançada equivale a um veterano na escola secundária, que mesmo antes de estar pronto para a faculdade, já pode dar instruções elementares aos novatos. Conforme ele mesmo avança em direção à verdade, se esforça para despertar a consciência espiritual nos outros. A iniciação dada por um guru comum que é suficientemente avançado na vida espiritual também traz o despertar espiritual no decorrer do tempo, se o receptor sinceramente seguir o caminho espiritual. O mantra ou nome divino contém em si mesmo um tremendo poder. Śrī Caitanya nos ensina essa verdade: “Vários são os Teus nomes por Ti revelados, nos quais infundistes Teus poderes onipotentes, e não há limites de tempo para a recordação daqueles nomes consagrados por Ti”1.
Patañjali, falando sobre o efeito da repetição do Om e outros Nomes sagrados, diz que ele remove os vários obstáculos no caminho e leva à consciência do Espírito que habita nosso interior2. 'Quais são esses obstáculos? Eles são: dúvida, doenças, distúrbios mentais, etc. A repetição do mantra introduz um novo ritmo, uma harmonia para a personalidade que acalma os nervos e unifica os poderes mentais. E, no devido tempo, isso leva ao despertar do Espírito interior. Um iniciante na vida de meditação pode não ser capaz de entender o poder do mantra. Mas, se ele sinceramente o repete, compreenderá gradualmente seu poder. Swami Brahmananda diz, ‘Japam japam - japam! Mesmo enquanto você trabalha, pratique japam. Mantenha o nome do Senhor girando no meio de todas suas atividades. Se você puder fazer isso, todas as aflições do coração se acalmarão. Muitos pecadores se tornaram puros, livres e espirituais, refugiando-se no nome de Deus. Tenha intensa fé em Deus e em Seu nome, saiba que eles não são diferentes’.3
Como os santos mostraram no passado, também no presente foi mais uma vez comprovado que o poder de Deus se manifesta através do Nome divino. Quando o mantra dado por um guru é guardado interiormente com a meditação constante sobre ele, esse poder se desenvolve mais e mais no aspirante. Sri Ramakrishna costumava comparar esse processo com a formação de uma pérola. Segundo a crença popular, a ostra de pérola espera até que a estrelas svati (Arcturus) esteja em ascensão. Se chover naquele momento, a ostra vai abrir sua concha e recolher uma gota da chuva. Então ela irá mergulhar até o fundo do mar e lá permanecerá por vários meses até que a gota de chuva seja convertida numa bonita pérola4. Da mesma forma o coração do devoto deve estar aberto à verdade e depois de receber instrução espiritual do guru, ele deve trabalhar nisso com zelo dedicado até que a pérola da iluminação espiritual se desenvolva.
06 - A mente pura como Guru
06 - A mente pura como Guru
Swami Brahmananda costumava dizer: “Não há maior guru que sua própria mente”. O guru humano não está sempre à mão. Mesmo se tivermos sorte o suficiente para assegurar as bênçãos e as instruções de um mestre avançado, ele poderá não estar sempre disponível quando precisarmos dele. Mas há um professor interior, a nossa própria mente purificada, que está sempre presente dentro de nós. Diz Swami Brahmananda, “Quando a mente estiver purificada por meio da oração e da contemplação, ela irá guia-lo interiormente. Mesmo em seus afazeres diários, este guru interior irá orientá-lo e continuará a ajudá-lo até que a meta seja alcançada1”.
O que isso significa? Como o espírito atua como o guru interior? O Espírito Supremo, a fonte de todo o conhecimento, o Mestre de todos os mestres, está sempre presente no coração de todos. Quando a mente está purificada através da vida moral, oração, meditação, etc., ela entra em contato com a luz interior do Espírito supremo. A mente purificada se torna um canal para o fluxo do conhecimento divino. Ela recebe orientação espiritual diretamente do professor dos professores. Quando a mente assim aprende a se abrir à verdade interior, pode receber instruções de muitas fontes. O Bhāgavatam fala de um Avadhūta ou asceta errante que aceitou muitos elementos naturais como seu upagurus ou professores subsidiários. Da mãe terra ele aprendeu o segredo da paciência, do ar, aprendeu o desapego (como o ar permanece inalterado pelo odor agradável ou desagradável), do céu, ele aprendeu a liberdade de todas as limitações, e assim por diante2.
Muitos de vocês sabem como a iluminação chegou ao irmão Lawrence, o místico francês do século XVII que passou a vida na cozinha de um mosteiro. A visão de uma árvore sem folhas em pleno inverno despertou nele a reflexão de que as folhas se renovariam, e flores e frutos surgiriam naqueles galhos nus. Isso lhe revelou a presença e o poder de Deus ocultos em toda a criação. O despertar espiritual que ele então experimentou o sustentou por toda a vida. Em todos nós, o poder de Deus está escondido, esperando para ser despertado. Temos que descobrir o centro da Consciência divina em nós e evocar o poder adormecido. Foi esse guru interior que Buda pediu a seus discípulos que seguissem após sua morte. 'Seja uma lâmpada para si mesmo (Atmadipo bhava)', ele disse a eles.
Mas devemos tomar cuidado para não nos enganarmos. Podemos pensar que nossa mente se tornou um bom guru, que estão recebendo instruções em todos os lugares, mas há sempre o perigo de confundir nossos próprios desejos e pensamentos com inspiração, Voz divina, etc. Não existe tal perigo quando recebemos instrução de um professor vivo que é espiritualmente avançado, e são guiados por ele. O guru humano instrui seu discípulo a purificar sua alma pela prática do discernimento, da conduta moral e trabalho altruísta. Quando o discípulo erra, o guru percebe e o traz de volta ao caminho certo. Aqueles que têm a sorte de ter a orientação de um verdadeiro guru humano não se desvie. Gradualmente, por meio das bênçãos do guru, os a faculdade da intuição despertará no discípulo, e a partir daí em diante sua intuição purificada atuará como seu guru. Que é assim que a própria mente se torna o guru.
07 - Avatara - o maior dentre os Mestres
07 - Avatara - o maior dentre os Mestres
O maior Mestre é a Divina Encarnação, que é capaz de trazer iluminação a milhares de pessoas. Swami Vivekananda costumava dizer que o avatara é aquele que pode alterar o destino das pessoas, aquele que pode apagar o que está escrito em suas testas, isto é, seu karma. Nenhum professor comum tem tal poder de transformação. Jesus teve o poder de trazer a Luz divina para aqueles simples pescadores que alcançaram a iluminação ao seu toque. Ele também tinha o poder de transformar almas impuras que as pessoas chamam por pecadores. Quando ele lhes dizia: 'Teus pecados estão perdoados; a tua fé te curou; vá em paz', eles imediatamente se sentiram livres de todas as impurezas. Mas o próprio Jesus passou pela iniciação. O que mais foi aquela cena do batismo no Jordão quando, dizem-nos, os céus se abriram e viu-se o Espírito de Deus descendo como uma pomba sobre ele, com uma voz que dizia: ‘Este é meu filho amado em quem me comprazo”. Nos tempos modernos um número cada vez maior de pessoas considera Sri Ramakrishna como uma Encarnação.
Ele também recebeu iniciação de um professor humano. Dizem-nos que antes de ele assumir o seu trabalho como sacerdote no templo de Kali, ele foi iniciado por uma professora tântrica (de nome Kenaram Bhattacharya) de Calcutá.
Quando a professora pronunciou o mantra em seus ouvidos, Ramakrishna deu um grito alto e ficou absorto em êxtase. A professora disse que instruiu muitos discípulos, mas nunca encontrou ninguém. como Ramakrishna.
O Mestre, por sua vez, iniciou seu grande discípulo Narendranath com o nome de Rama. E suas emoções espirituais foram elevadas às grandes alturas. Por várias horas ele ficou absorto em estado de êxtase. Mais tarde, este discípulo tornou-se um dínamo de espiritualidade: o Swami Vivekananda.
Em 1892, um ano antes de Vivekananda ir para a América, um professor agnóstico em uma das faculdades de Madras discutiu com ele a respeito das verdades da religião. Vivekananda acabou por tocá-lo, e o incrédulo foi instantaneamente transformado. Mais tarde, este homem renunciou ao mundo e viveu e morreu como santo.
Sri Ramakrishna tinha o poder de elevar as pessoas às grandes alturas da consciência superior, transmitindo-lhes energia espiritual mesmo por um mero olhar ou vontade. Swami Shivananda (Mahapurush Maharaj) narrou sua própria experiência da seguinte forma: ‘Um dia eu estava meditando quando o Mestre se aproximou de mim. Tão logo ele olhou para mim, explodi em lágrimas. Ele ficou parado sem pronunciar uma palavra. Uma espécie de sensação arrepiante passou através de mim e comecei a tremer completamente. Mais tarde, o próprio Swami Shivananda, como muitos de seus irmãos discípulos, tornou-se um mestre espiritual de grande poder.
Esse poder se manifestou ainda mais quando ele se tornou o líder da Ordem. Por volta do ano de 1923, um buscador espiritual de Sind veio ao Swami para iniciação. O devoto havia recebido o mantra em sonho, mas, como não conseguia entender seu significado, sua mente ficou inquieta. Mahapurush Maharaj levou-o para a sala do santuário, iniciou-o e pediu-lhe que meditasse para ganhar tempo. Então o Swami voltou para seu quarto com o rosto radiante e a mente dominada pela emoção divina, pois sabia que algo significativo estava acontecendo no santuário. O novo discípulo teve uma experiência maravilhosa. No momento em que recebeu o santo Nome, uma nova consciência espiritual despertou nele, lágrimas começaram a rolar por suas faces e ele entrou em profunda meditação. Quando ele voltou para seu guru, ele relatou como, por meio de sua graça, seu coração se encheu de paz divina. Ele disse que o mantra que lhe fora dado durante a iniciação era o mesmo mantra que ele havia recebido em seu sonho, mas só então ele entendeu o que significava. Mahapurush Maharaj então disse a ele: 'Meu filho, foi o próprio Senhor que o abençoou hoje. Só ele pode mostrar misericórdia para as pessoas. Somos apenas instrumentos em Suas mãos. O Senhor se manifesta no coração do guru e transmite o poder espiritual ao coração do discípulo. Eu o consagrei ao Senhor que tomou conta da sua vida e do seu destino.'
08 - O eterno professor
08 - O eterno professor
Há um ditado que diz que o guru humano profere um mantra nos ouvidos de um discípulo, enquanto o Mestre do mundo fala no coração do devoto. A verdadeira iniciação ocorre quando Deus desperta a consciência espiritual de um buscador. O verdadeiro guru é o Deus imanente, o Espírito supremo residente que é a Meta, o Controlador, o Senhor, a Testemunha, a Morada, o Refúgio, o Amigo, a Origem e a Dissolução do universo, seu Substrato, o Repositório do Semente eterna.
Quando o professor comum e o aluno se encontram, cada um tenta ver a Deus no outro. O discípulo vê o mestre como uma manifestação visível do Espírito supremo, o Mestre de todos os mestres, como um canal para o fluxo da Graça divina. É com esse espírito que ele o serve, obedece e adora. Os versos conhecidos, repetidos por milhares de pessoas na Índia, expressam esta ideia:
Eu me curvo ao divino guru que, pela aplicação do colírio do Conhecimento, abre os olhos de quem está cego pela doença da ignorância. Eu me curvo ao guru divino que transmite ao discípulo o fogo do autoconhecimento e queima seus laços de carma acumulados por muitos nascimentos.”
Eu ofereço minhas saudações ao Ser beneficente que está encarnado no guru, a Luz de cuja Existência absoluta brilha no mundo da aparência, que instrui os discípulos com o texto sagrado, 'Tu és Aquele', percebendo-se a quem, a alma nunca mais retorna para o oceano de nascimento e morte.”
O Jivätman, o Ser individual, é interpenetrado e permeado pelo Paramätman, o Ser supremo. O propósito da iniciação é remover o véu da ignorância. Uma vez que este véu é levantado, o contato pode ser mantido através da prática espiritual regular.
A velha lei da oferta e da procura também está em ação na vida espiritual. Se um buscador sente um tremendo desejo pela luz da Verdade, essa luz virá de uma fonte ou de outra.
Algo lhe acontece, seu coração se abre à Graça divina, a Luz divina irrompe sobre ele. E conforme ele se aproxima da Realidade última, ele vê a Luz do Espírito supremo brilhando em todos os seres. E quando ele se torna uno com o Espírito supremo, o Mestre de todos os professores, ele também se torna um canal de Conhecimento divino para os outros. Ele serve a todos os seres sabendo muito bem que está servindo somente ao Senhor, o eterno Mestre que está ensinando, despertando, iluminando e guiando as almas através dos tempos.
Hare Krishna Hare Krishna
Krishna Krishna Hare Hare
Hare Rāma Hare Rāma
Rāma Rāma Hare Hare
Jai Jai Rāma Kṛṣṇa Hari
Oṁ Sthāpakāya ca dharmasya Sarvadharma svarūpiṅe
Avatāra variṣtāya Rāmakṛṣṇāya te Namaḥ
Jananīṁṁdevīṁ Rmakṛṣṇhnaṁ jagadguruṁ
Pāda padme tāyōh śrītvā Praṅamāmi muhur-muhuḥ
Namaḥ Srī Yatirjāya Vivekānanda sūrāye
Sat-cit-sukha-svarūpāya Swāmine-Tāpa-hārine
Gurur-Brahmā Gurur-Viṣṇuḥ Gurur-devo Maheśvarah
[Na mein dharma na mein śākti]
[Jaya Jaya Śiva Shamboo
Hara Hara Śiva Shamboo]
Mahadeva Shamboo]
[Om Namaḥ Śivāya |||
Śivāya Namaḥ Om]
Om Namaḥ Śivāya ||
Faz-me voltar ao meu lar em Ti
Om, Guru, Om! (bis)
Te amarei, servirei sem cessar,
Até minh'alma mergulhar no Teu mar
Om, Guru, Om! (bis)
Vida após vida teu nome cantarei
Om, Guru, Om! (bis)
Pois em meu coração encontro Você